O Caminho Importa Mais Que a Chegada

Sou, há muitos anos, um leitor atento de textos sobre produtividade. No entanto, conforme fazia minhas leituras e amadurecia os pensamentos sobre mim, fui acrescentando uma nuance importante: passei a gostar de produtividade com sentido.

Por que digo isso?

Bem — sabe? —, há aquela produtividade vazia, mecânica, como um fim em si, movida somente por eficiência. Não é o meu caso. Para mim, produtividade é uma forma de viver com intenção, de extrair e cultivar boas ideias do campo da abstração e realizá-las com qualidade. Não é sobre fazer mais, mas sobre fazer melhor o que importa.

Isso é produtividade para mim. Ela perde o valor quando não está a serviço de um sentido, de uma beleza intelectual. É viver com mais coerência entre o que penso, sinto e realizo. Não, caro leitor, não é vaidade; é uma busca sincera por integridade.

No entanto, se você pensa em produtividade, o que lhe vem rapidamente à cabeça? Acredito que seja cumprir metas.

Todos pensamos em metas, mas aí está um erro de perspectiva.

Meta é importante, mas ela é como uma bússola: aponta uma direção. Todos precisamos de direção, certo? No entanto, ela não ensina a caminhar.

Preocupamo-nos demais com a direção, e negligenciamos o caminhar. Buscamos resultados, e descuidamo-nos das ações e rotinas que possibilitam avançar em sua direção, ao longo do tempo.

É claro que uma boa meta também deve incluir os passos para chegar ao destino. Todavia, a verdade é que, quando pensamos em metas, o foco está no destino, em vez de estar na jornada.

James Clear, em Hábitos Atômicos, chama a jornada de “sistema”; eu costumo chamá-la de “processo”. Ele é não somente o caminho que escolhemos seguir (já que muitos caminhos podem levar ao mesmo destino), mas também a forma de caminhar, os passos, a jornada, um modo de operar de forma contínua. O foco desloca-se do resultado ao ritmo, ao padrão e à consistência da ação diária, que, juntos, formam uma identidade: alguém comprometido com o aperfeiçoamento, não só com a conquista.

O que mudou em mim é que passei a confiar no processo, atitude que eu chamaria de minha fé prática: um compromisso silencioso com o processo, uma disposição de continuar agindo de acordo com um sistema que acredito ser frutífero, mesmo quando os frutos ainda não surgiram. É a fé que se expressa em comportamento, não em desejo, em fazer, não somente em esperar.

O interessante disso tudo é que, com o tempo, você aprende não só a focar no processo, mas a confiar nele. Isso é fundamental, porque, se não acredita, você desiste.

E como se aprende a confiar no processo?

Bem, você aprende a confiar, quando faz o que acredita ser certo, mesmo que ninguém perceba; quando, mesmo sem garantias, você continua.

Você aprende a confiar na prática silenciosa, não nas promessas visíveis. Não é um ato de fé cega; é um gesto consciente de quem já vivenciou, na própria vida, que o esforço com sentido molda o caráter, refina a linguagem e aproxima a verdade. E faz isso, mesmo que os frutos demorem a surgir.

Você aprende a confiar, quando deixa de exigir que cada esforço traga um retorno imediato. Quando começa a perceber que a transformação mais profunda acontece em você: na clareza com que pensa, na precisão com que se comunica, na calma com que começa a reagir aos dias.

Você começa a confiar no processo, quando troca a pergunta “será que vai dar certo?” por “estou fazendo o que importa com honestidade?” E percebe que, ao longo do tempo, esse modo de agir constrói algo mais importante: uma vida com coerência.

Aprendi que uma das formas mais legítimas e honestas de confiar no processo é seguir por convicção.

Você permanece. Continua. E isso, prezado amigo, não é pouco. É resistência ética. É coragem com consciência.

E sabe por quê?

Porque, ao longo do caminho, você invariavelmente vai habitar esse espaço entre o que você acredita e o que ainda não retornou. É o intervalo mais perigoso e mais formador de todos. É aqui que muitos desistem. Não porque não tenham talento; mas porque não suportam mais plantar sem colher.

É claro que, muitas vezes, você precisará reajustar as coisas. Contudo, ainda assim, deve seguir plantando. Isso é fé. Não uma fé de quem apenas espera, mas uma fé de quem persiste, persiste, persiste — e, mesmo exausto, se recusa a trair o que faz sentido.

É isso o que aprendi e venho aprendendo.

O que você ainda não colheu não é prova de fracasso. Acredite. Muitas vezes, a colheita não é uma forma de explosão, mas sim de consistência, de integridade, de uma base sólida.

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